Opinião

A política falhou?

É comum dizer-se que a política falhou. Mas, será que falhou ou a é a forma como ela é feita que está em crise?

Os partidos continuam a ser essenciais para a democracia, mas a política tornou-se um espetáculo de curto prazo, onde o foco não está na governação estruturada, mas sim na resposta imediata às redes sociais e aos ciclos mediáticos efémeros.

Os debates deixaram de ser espaços de confronto de ideias para se tornarem arenas de soundbites e ataques pessoais. Os programas eleitorais são frequentemente substituídos por promessas vazias, desenhadas para gerar impacto imediato sem qualquer viabilidade real. A política, que deveria ser uma construção de médio e longo prazo, está refém da necessidade constante de protagonismo e validação digital.

A falta de visão estratégica reflete-se na incapacidade de resolver problemas estruturais. Em vez disso, assiste-se a uma sucessão de medidas paliativas, desenhadas para apaziguar descontentamentos momentâneos, sem resolver as causas profundas dos desafios que enfrentamos.

A polarização também contribui para esta degradação. O debate deixou de ser sobre soluções e passou a ser sobre trincheiras ideológicas. Quem ousa procurar consensos é visto como fraco, e a moderação tornou-se um sinónimo de ineficácia política.

O futuro da governação exige um regresso à política séria e comprometida. É preciso resgatar o pensamento estratégico, valorizar a competência em detrimento do espetáculo e criar um espaço onde o diálogo prevaleça sobre o ruído. Se os partidos não souberem adaptar-se a esta necessidade, o afastamento dos cidadãos será inevitável e isso representa uma ameaça real à democracia.

 

(Crónica escrita para Rádio)